Depois da sessão de desenho — 8 de junho de 2018

Fui embora e não parava de pensar no desenho — no dia — no seu não — no sentido que você me faz enxergar nas coisas — na falta de sentido que minhas próprias ações as vezes têm — sentido que expressariam algo vivo — porque sentido elas até têm — mas não exatamente é aquele que você me faz ver.
Fui embora e vi que sempre que tenho alguma ação restrita por você, sinto-me, no começo, presa, mas depois parece que todos meus sentidos se afloram — parece que eu levantei de uma cama onde estava deitada há meses — e todo o corpo formiga — e eu posso andar quando eu achava que estava com as pernas lesionadas. como se dá essa sensação se na verdade, aparentemente, meu movimento ficou menor devido à restrição?
Seu desenho me fez olhar dentro de mim e ver uma estrada escura cheia de carros com os faróis acesos vindo em minha direção — onde eu achava só ter escuridão tem muita luz — mas elas ainda me cegam e me encurralam — estão a 120 km/h — enquanto eu ainda me rastejo para proteger meus olhos de verem minha pele em carne viva queimar sob sua luz — ela foi levada a um grave e perigoso grau de calor — podem facilmente fundir minha língua — ou a língua que pensei que eu pudesse falar — a ruína de uma linguagem conhecida só mostra meu desejo de que ela — ou alguma outra — se realize — e sem saber falar essa língua sei que, após ter te conhecido, já não há mais como ela se calar — a voz que acreditou ter se atirado do abismo dele subirá — trazendo novos abismos — que têm a lucidez e loucura do seu olhar — eles peregrinam no deserto trazendo trouxas em seus ombros com pedaços de dedos deitados em poças de sangue — que me apontam que seu mar secou — mas o mar que há dentro de uma concha não — assim como meus gritos abafados que não compreendem — mas são compreendidos pela — concha que insisto em ser.
Olho dentro de você e não vejo nada — a pessoa que eu vejo é o resquício de uma luta — é aquilo contra o que eu ainda resisto — a dor de nascer — parece que nascer não termina — não morre — se viver é sempre nascer então você é mesmo eterno — o que chamo de presente já está morto — já passou — eu ainda não sei estar mesmo viva — como uma carne — para a qual olho — sabendo que sua próxima data de validade garante sua podridão — olho — ouço — sua desumana voz que ecoa num deserto sem nome — mas ainda não ouso pegar.
CCS, 8 de junho de 2018